Eu sou, sei lá, feito de nuvem
de um sonho poroso
aéreo
volátil.
Vou ao vento.
Volante.
No acúmulo esparso que sou,
vivo no nimbo,
sorrindo
abstrato.
Estrato
de lembranças e desejos.
Não se guie por mim,
não sou nenhum norte.
Não me desafie,
não sou serafim
sou forte
não fraquejo
e se me falta algum traquejo
voo disperso e me afasto
relampejo
contra tanta gente
infame e nefasta.
Eu me precipito sem ser visto
no horizonte latente da estrada,
onde o céu se descortina
oculto e presente
e o que há à frente
é só fronteira e possibilidade.
E assim
próximo ao fim
eu me descarrego
suave e potente
no ciclo
e de novo
e de novo.
Este sou eu, pasme.
Que no seu espanto
já não haja pranto:
abrigue-se
ou saia
perfumada
pra rua
e deixe
a chuva
te beijar.