Cuidar não é expor, mas
notar o outro e acolher
e dividir a atenção
e a refeição com a colher
e repartir com a mão,
a mesma mão de estender
e ajudar a se erguer.
Cuidar é sobre ouvir,
saber ouvir e calar
para melhor atentar.
Mas atenção:
o atentar aqui não é contra,
é o de consideração
(é sempre bom lembrar).
O abraço fraterno do cuidado
dispensa o terno engomado
do autoengano da titulação.
A excelência acadêmica de valor
dispensa a polêmica que for
e se faz samaritana por missão:
doutor só quem souber sanar a dor.
Cuidar também do falar
pois a boca para além
de beijar, cantar, sorrir
há de sempre o Bem proferir,
porque a fala é faca afiada
e se usada como espada,
é certo que o erro vá ferir.
Que da boca saia
acalento e bênção.
E que fique claro
que ao cuidado é caro
aprender com zelo
a maior lição do curso:
cuidado é ação, não discurso.
Coagir não é agir junto
– apesar do prefixo.
É como a diferença
entre o cordeiro e o lobo
que traja sua pele.
Não basta usar crucifixo,
é preciso ter a marca que impele
à suave ação, paciência
sem impor o jugo, violência
do saber cuidar, sapiência.